Não é segredo para ninguém que eu, Ismael, estive 10 anos no seminário. Quem me segue, por exemplo nas redes sociais, sabe que eu visito muitas igrejas. Mas terá isso a algo a ver com a minha espiritualidade e fé?
Posso dizer que fui crescendo por entre igrejas e capelinhas. Eu estava num seminário, queria ser padre e então isso levava-me a estar muitas vezes em cerimónias, em ir à igreja rezar e encontrar-me comigo. Mas isso também me fez crescer a um outro nível que só uns anos mais tarde consegui compreender: a arte sacra fascinava-me. E somente compreendi isso quando tive uma disciplina chamada de “arqueologia e Arte Cristã” lecionada pela Doutora Fátima Eusébio. E com ela aprendi realmente bastante. Aprendi a reconhecer os estilos, aprendi a reconhecer peças, aprendi os seus significados bem como a fazer a sua interpretação.
Entrar numa igreja é um encontro com Deus. Mas isso não implica que eu, não acreditando, não o posso fazer. Talvez não o entenda e isso me leve a não visitar, mas se algum dia tiverem oportunidade, terei todo o gosto em acompanhar-vos a uma igreja e fazer-vos uma interpretação. Ou então aproveitem uma visita guiada e deixem-se conhecer.
Falemos então em “entrar numa igreja”. Quando entramos numa igreja, entramos principalmente num templo, num local de oração. Mas ao mesmo tempo estamos a entrar também num museu. A arte sacra que se encontra dentro desse templo vai remeter-nos a uma ou várias épocas da nossa história. E dentro da arte sacra temos imensos pontos de interesse: podemos observar a arquitetura de um determinado período, podemos observar a pintura, observar a escultura, observar a luz que inunda ou a falta dela num espaço. É também o observar da evolução da arte e dos materiais usados pelos artesãos. Desde o tipo de tinta/pigmento, como em trabalhos mais ou menos elaborados.
Se isto tudo é uma vertente daquilo que a arte sacra nos pode dar, também pode haver aqui uma interpretação poética, por exemplo. Sabiam que muitas igrejas são pensadas de acordo com um dos livros de poesia mais antiga que conhecemos (falo aqui do Livro do Salmos presente na bíblia)? Em como as expressões das pinturas e esculturas nos podem levar da dor ao regozijo? E se falarmos em termos de simbologia, a igreja traz-nos muitos exemplos, como o pelicano que existe representado em várias obras de arte sacra. O pelicano quando não tem comida para dar aos seus filhotes, bica o seu próprio peito para os alimentar: também Deus sacrificou o seu próprio Filho para nos salvar. Este é só um dos exemplos.
Mas também mais que tudo isso, as igrejas remetem-nos para um período histórico, que faz parte da nossa história como povo. E se em Portugal muitas vezes encontramos brasões monárquicos é porque a monarquia esteve ligada à religião e através dela foi deixando o seu legado e escrevendo a sua história. Remetem-nos para uma altura antes dos descobrimentos, para o auge dos descobrimentos, para o cisma criado entre igreja e estado. A arte sacra passa também, por exemplo, pela joelharia, por obras de grandes famílias de joelheiros, por pequenas obras e detalhes fantásticos.
Por isso, quando tiveres oportunidade de ir conhecer uma igreja, vai, mas vai com outros olhos e não com as palas que estamos habituados. Se tu não acreditas, deixa-te ir para uma viagem cultural entre arte e costumes. E sempre vais enriquecer um pouco mais a tua cultura. Mas não te esqueças: não compreendes? Pergunta ou pesquisa, vais ver que vai valer a pena. Boas visitas.
Autor: Ismael Sousa
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